26 maio, 2007

HORA DA COMÉDIA

Ouço música. É primavera!

Eu pergunto a minh´alma: o que você deseja?

E ela me responde: quero uma paixão. Quero me apaixonar.

Quero sentir as emoções que só a paixão desperta..

Que importa que a paixão seja passageira? Ela é o bem maior enquanto dura.

Meu coração dói. Às vezes o sinto subindo, subindo como se fosse soltar-se de onde

está e vir aqui fora para respirar, já que, dentro de meu peito ele se sente sufocado, dolorido de tanto pulsar em vão.

Ajude-me Deus a encontrar um motivo para afagar esse meu coração que reclama

tanto, cresce tanto, torna-se imenso, atinge proporções que chegam a pesar dentro de

mim e assim, eu e ele, viramos uma só dor.

Liberta-me Senhor! Liberta-o !

O pranto rola tranqüilo de meus olhos pelas minhas faces e isso traz um mísero conforto.

Vivo assim. Vou morrer assim, tão conflitada, insatisfeita, incompleta?

E essa sede insaciável? Onde está a fonte? A vossa fonte? Não me negue PAI, mate a

minha sede. Aquieta meu coração, dá alívio ao meu peito. Integra-me novamente à vida.

Essa vida me tirou tantas coisas, mas me deu tantas outras. A saúde do corpo por al-

gum tempo perdida, marido, filhos, netas tão amadas, tão perfeitas, lindas, noras, genro.

Uma família, uma grande família ! Tranquilidade material, mas eu nunca fui assim tão

vazia, tão oca, incompleta, triste, quase morta.

Quero alegria que mora dentro, nasce dentro. Não quero alegria de mostrar, quero ale-

gria de sentir. Ser alegria.

Angústia PAI ! Dói, corrói, deixa marcas profundas. Preciso compreender meus senti -

mentos , minhas emoções, os desejos de minha alma.

Coração e alma já não cabem dentro de mim. Sinto tudo crescendo tanto que parece

que vão me matar. Não quero morrer. É agora que a vida está sendo tão generosa

conosco.

Tira-me esse peso, sensação de cansaço que não se desfaz com repouso porque não

é do corpo, é da alma, do coração - cansados, ambos cansados, mal alimentados por

estarem usando alimento errado.

Quero Paz!

Obrigado pelas lágrimas que agora correm em abundância. Serão elas um dos alimen-

tos, nessa hora, certo ? Sinto que elas conseguem trazer um pouco de alívio.

Deus, fico desconcertada diante de mim. Percebo que não sei perder. Tudo que perdi

levou junto um pouco de mim. Meu primeiro amor, meu sonho de menina, depois meu

trabalho. Minha realização maior. Sentia-me completa, feliz atrás daquela mesa, mas tu-

do acabou. "Não se pisa no mesmo rio." Entendo muito bem, mas não vivo muito bem.

Trabalho tanto ! Esgoto-me para me esquecer.


Aurélia - 1992














Nenhum comentário: